- E o curso como é que está?
- Oi Pai, eu estou bem, e o senhor? Mas o curso, quer saber mesmo? Já que o senhor é tão insistente em relação a ele, é bom que saiba de uma vez que 'o curso' está cada vez mais detestável. Isso mesmo, detestável, com acento e tudo. Sabe pai, esse tão sonhado curso me ensina coisas insignificantes, impraticáveis. Com ele aprendo a vestir taileurs tons pastéis e usar o make-up correto. Devemos ter boa postura, celulares caros e expressão zero. Aprendo a não questionar e apenas seguir aquilo que o código diz, o código! Lá, no universo desse disputado curso, nós exercitamos todo santo dia a intelerância, a falta de respeito ao próximo e principalmente a debochar daqueles tidos como 'não convencionais'. No admirável curso somos induzidos a deixar a sensibilidade de lado, já que ela só dificulta a aplicação da lei. O exercício da lucidez e da racionalidade é cobrado dia após dia em uma batalha incansável contra a nossa natureza. E sabe o que mais me revolta? É ver em cada um de nós a capacidade de indignar-se aos pouquinhos se esvaindo sorrateiramente, nos deixando apáticos, mas enfim, prontos para operar o Direito.
- É isso pai, infelizmente lá no curso somos todos uns pinguinzinhos.
- Trocou o óleo do carro?
- Não, esqueci.
- Então faz isso amanhã, passa no meu cartão. Vai ali e compra um litro de whisky.
- Tô indo, só vou pegar as chaves.

Um comentário:

  1. meu pai faz a mesma coisa... nossos pais vieram com defeito ou são todos assim?

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